Bailes Funk: expressão artística das ruas. A estética das favelas em um espaço visto como contracultural

 

Bailes Funk: expressão artística das ruas: A estética das favelas em um espaço visto como contracultural

    Pra gente começar essa conversa temos que nos questionar o que é um baile funk, e nada melhor do que a história pra contar esse rolê pra gente. Bom, a cultura dos bailes funk tem suas raízes aqui no Brasil lá no Rio de Janeiro, isso nos anos 60/70, aos poucos o funk foi se espalhando pela cidade do Rio, mas sempre manteve seu caráter de uma produção da periferia e para a periferia (por isso é dhr tirar umas com os boy e com a paty que cola em baile). Embora com esse caráter periférico brasileiro, o funk possuía uma musicalidade estadunidense, já que veio dos EUA. As músicas que eram tocadas aqui eram o funk estadunidense o Soul.


FOTO: Black Rio

O grande DJ Marlboro foi um dos precursores do funk brasileiro, já que na década de 80 ele passou a agregar elementos nacionais ao funk e passou a tocá-los nos bailes do Rio, e aos poucos o Funk se consolidava como uma manifestação cultural genuinamente brasileira. Nesse momento os bailes (já cunhado como Black Rio) tinham uma parada com os DJ 's muito forte, já que eram eles que literalmente davam o ritmo das festas..

A partir da ressignificação das letras norte americanas e com letras em português, o Rio passava por uma nova fase do funk, assim consolidando de fato o funk carioca que posteriormente se difundiu pelo restante do país com suas variações. Os bailes (que aconteciam em vários bairros diferentes) tinham disputas e festivais, de onde saíram nomes potentes, como Cidinho & Doca, Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, Mc Cacau, Mc Marquinhos e várias outras vozes potentes que marcam presença até hoje. 



FOTO: CD DJ Malboro, 1994

    Passando por um grande salto temporal, nos anos 2000 o funk passou a circular de forma mais ampla pelo Brasil e com o Funk ostentação de São Paulo, consolidava-se o Funk Paulista (que era carregado de problemáticas sociais assim como o carioca), onde as políticas econômicas que beneficiaram as periferias do Brasil deram maior poder aquisitivo as populações mais pobres eram evocadas. Peço licença para citar o MC Guimê nesse ‘jet’:

 
Contando os plaque de 100, dentro de um Citroën,
Ai nois convida, porque sabe que elas vêm.
De transporte nois tá bem, de Hornet ou 1100,
Kawasaky, tem Bandit, RR tem também
(MC GUIMÉ, PLAQUE DE 100).

MC Daleste foi uma figura do Funk que deu a cara e a personalidade ao Funk paulista, onde foi e é uma grande referência, pontuava as vivências de sua área (Zona leste, Penha) mas também a questão da ostentação. MC Daleste é uma das principais referências para a identidade visual e musical do Funk Paulistana. Daleste, assim como vários outros MC's ficou conhecido por cantar o "Funk proibidão", nome dado ao Funk que retrata(vá) a realidade periférica. Nem só de proibidão vive um MC, Daleste e vários outros nomes (Neguinho da Kaxeta, Felipe Boladão, etc), transitavam e transitam em várias outras vertentes do Funk. 
 

    O poder econômico enaltecido nas músicas também foi refletido nos bailes, o que demonstra que ambos (funk e bailes de rua) andam juntos.

    Em São Paulo, assim como o ritmo musical, os bailes têm uma brisa totalmente diferente. Enquanto no Rio os bailes possuem um caráter mais cotidiano, a cultura da ostentação é presente na cena de São Paulo. Aqui é comum a gente ver motos, carros (com sons potentes) e paredões de som que representam uma série de elementos urbanos, mas de prestígio na cena paulista. 



FOTO: Gustavo Morais de Lima

    A estética de São Paulo é marcada por tênis de marca, camisas que representam marcas e uma série de artigos nas vestimentas (como as mais variadas lupas, correntes e bonés).  Outra marca de São Paulo é a presença da música eletrônica e elementos estéticos das Raves, os Umbrellas (guarda-Chuvas) e outros artigos da Oakley (como as Flack’s, Medusas e lupinha de vilão). 


FOTO: https://www.instagram.com/dz7oficial/

       
  FOTOS: Gustavo Morais de Lima                                             

    Vale ressaltar também que até mesmo o consumo é algo visto como uma figura de prestígio dentro dos bailes (o famoso Cavalo Branco e as Jack são as preferidas), o fato é que na cena de Paulista os bailes possuem um caráter plural, estético e musical.


FOTO: Gustavo Morais de Lima

    É interessante notar que os bailes possuem uma união geográfica muito forte, já que tem gente da Sul, Leste, Norte e do Oeste em um local só. O baile da Dz7 e o do Bega na Zona Sul de São Paulo suportam uma vasta variedade de quebradas, variando de Brasilândia ao Capão.
    Na cena musical esse lance da geografia é forte também, se liga nesse som que se refere ao baile do pantanal:

Ela sai do Itaquera vai pro pantanal
Ela sai do carrão vai pro pantanal
Ela sai de pinheiros vai pro pantanal
Ela do capão e vai pro pantanal
(MC DM, MC Five e MC B12 - Proxima Estação Pan Ta Nal)


    Os bailes funk de São Paulo são detentores de uma pluralidade muito grande com elementos estéticos únicos que formam a identidade dos frequentadores e dos próprios bailes.

    Por fim, vale ressaltar que aqui eu fiquei só nos bailes de São Paulo, pois são os que eu frequento, e como não frequento os do Rio, não irei me comprometer a falar deles aqui.

    Em breve vou lançar um outro texto (mais detalhado) da cena de SP e sua formação estética.

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